Somos ou imaginamos ser?

Celso Rodrigo
3 min readDec 6, 2018

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Há momentos em que me pego pensando quem sou, se estou satisfeito com o que vejo diante do espelho, se é este o reflexo imaginado anos antes. Realmente me tornei quem eu queria? Indo um pouco mais além, sou o que sou? Ou apenas finjo ser alguém? Ou ainda, sou aquele quem os outros querem que eu seja?

Traçamos nosso caminho de maneira tortuosa. No íntimo, o desespero de ser quem realmente acredita ser. A voz calada sofre dentro de nós, pedindo urgência em seu socorro. Na era das redes sociais e relacionamentos líquidos, torna-se tarefa árdua encontrar alguém íntegro. E se encontramos, nos ofendemos. Sim, a liberdade ofende. A escolha do outro nos causa escândalo. E com isto surgem adjetivos que busquem ofender ou desqualificar o outro enquanto escondemos de fato quem somos ou quem realmente queríamos ser.

Ninguém pode acusar o outro de ter máscaras em suas posses. Todos temos. O que seria da sociedade sem elas? Obscena demais para que pudéssemos suportar. E digo obsceno, não no sentido literalmente erótico, mas aquilo que espanta aos olhos ou aos seus valores. Obsceno talvez, porque desperta em nós nossas vontades que até então estavam entorpecidas pelo dia a dia.

Podemos relutar em admitir suas existências, em confessar que dentro de nós existem outros. Porém, numa sociedade individualista, onde o eu tornou-se importante e está em evidência, elas são necessárias. Não podemos aqui dizer que é mau caráter aquele que detém suas máscaras. Antes é preciso analisar o enredo da história que se descreve. Há quem se aproveite disto para abusar das pessoas, mas há também quem prefira vestir suas máscaras para não entristecer e causar feridas ao outro.

Aqui você pode até acusar a pessoa de agir falsamente, justificando a sua opinião. Penso eu que agir falsamente é quando a pessoa busca adquirir alguma vantagem no relacionamento com o outro. Caso busque apenas proteger o outro de frustrações, não sei se poderia aplicar a mesma sentença. Claro, deixo registro aqui que é um assunto para uma nova reflexão. Basta-me o que escrevo agora, amanhã posso mudar a minha opinião.

Ao levantarmos de nossas camas, todas as nossas decisões são fielmente tomadas segundo o que queremos ou levamos em consideração os demais que nos cerca? Será que as pessoas estão aptas a adentrar em nosso íntimo e nos conhecer profundamente? Não seriam elas escandalizadas pelas coisas que escondemos em nossos quartos escuros, abarrotados de segredos, desejos, aflições, medos, desesperos, intenções, ambições, prazeres e outras coisas?

A vida parece simples e talvez seja. Nós é que nos perdemos em nossas dúvidas e valores impostos, buscamos um disfarce para nossa alma imoral. E aqui, ninguém podemos julgar. Quem julga não conhece a si mesmo. O detentor do conhecimento de suas mazelas sabe realmente que é o ser humano e com isto, se acovardeia perante qualquer penalidade que possa impor a alguém.

Disto nascem os rótulos, nascem também os defensores de bons costumes e uma moral fantasiosa. Defendem uma liberdade, mas que é seletiva, atendendo apenas ao que lhe interessa. Emitimos opiniões contrárias, em alguns assuntos, como se realmente estivéssemos com a razão. Buscamos contradizer com ofensas quem discorda.

A conclusão que posso obter no momento é que ainda nos falta muito para aprendermos a andar em sociedade. A aceitar o outro como ele é, sem a necessidade absurda de querer moldá-lo. Ou então de sermos, sem a busca pela aceitação do outro. Nisto talvez se resuma o texto: somos quem somos? Somos quem gostaríamos de ser? Somos quem os outros desejam que fôssemos? Nos contentamos com a vida que temos nós? Ou queremos viver na ideia dos outros, uma vida imaginária?

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Written by Celso Rodrigo

Não me leve tão a sério, sério!

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