Cartas — nº1
Oi meu amigo,
Te escrevo essa carta, não para me despedir, mas para justificar minha ausência. Ficarei longe por um tempo. Confesso que queria apenas manter o silêncio. Afogar-me nos meus pensamentos, mas há canais necessários que preciso manter devido às minhas responsabilidades, porém, somente para isto.
Estou cansado. Cansado de carregar tanta dor. Sorrir para evitar questionamentos e acenos dizendo que está tudo bem. Não! Não está tudo bem. E tudo bem também. A dor se faz necessária para o crescimento. Pelo menos é nesta ideia que me apego para não desistir de tudo. Alguma esperança precisamos vislumbrar, não é mesmo?
Queria te dizer que tudo ficará bem, mas o amanhã ainda é uma incógnita até mesmo para este que te escreve. Só quero me isolar neste momento. Por ora, contatos que eu tenho apenas me machucam ou eu os machuco, involuntariamente, como uma espécie de defesa, para não sair pior do que me encontro.
Sei que está me dizendo que isto não resolve, que preciso de ajuda e sozinho dificilmente sairei deste nevoeiro. A neblina é espessa, quase não enxergo, mas ainda não há ausência de luz. Quando isto ocorrer, talvez eu me preocupe de maneira mais séria a que o momento exija.
Fugir dos problemas? Não. Resolvi encará-los. Só não sei te responder quem sairá vitorioso desse embate. Não quero apenas encarar meu abismo, que entrar lá e ver o que há escondido por detrás da escuridão. Cutucar feridas até que não reste mais sangue. Estancar o que for necessário e deixar escorrer o que agora o que me pesa a alma.
No momento, estou aos cacos. Pode ser que me junte os pedaços ou então que tudo vire pó. Ciente de que haverá o tempo de pedir socorro, buscarei forças para isto. Se é que esta carta já não seja este pedido, mas de maneira velada, não?
Preciso lutar contra essa dor que não cessa e a cada dia ganha mais força. Enquanto restar energia, luto e lutarei. Ninguém poderá dizer que nisto eu fracassei. Já chega de colecionar falhas, derrotas e frustrações. Preciso vencer. Quero vencer. Desejo isto! Só que, meu grande defeito é que sempre tentei fazer as coisas sozinho. E nisto não será diferente. Só peço que compreenda minha clausura. Diferente de buscar meios para fugir da solidão, quero abraça-la, decidi aceitar que meus dias são o que são, solitários.
Mas continuarei aqui, te enviando cartas, porque escrever é o que me resta.
Só estou cansado. Cansado.
Um abraço, com afeto.