Das escritas
Há dias em que a saudade da escrita bate forte, quase espanca o peito. Formo frases sem contextos em minha mente, penso até em anotar para proveito futuro. A sede aumenta a cada insight que pulula na cabeça, porém, minutos depois entrego-me ao ostracismo criativo. Abandonei a resiliência para os textos. Percebo, a cada leitura realizada, que emitir opiniões, em época de ânimos inflamados, onde a lacração tornou-se palco para achismos ou àquele que detém a razão, não freando ânimos, impondo sentenças, se tornou perigoso demais.
Não guardo mais as certezas, embora elas insistam em permanecer, eu apenas coloco de lado tudo o que aprendi e me jogo no aprendizado que a vida nos traz. Não tenho mais o ideal de convencer alguém, de repente de tocar ou influenciar — termo na moda — aqueles que deitam seu olhar em tão pobres palavras. A vaidade, neste caso, não me serve mais. Já foi esse tempo.
Se escrevo, não é porque pretendo afirmar algo, mas para desafiar a mim mesmo no campo do conhecimento. Assim como o ferreiro trabalha o metal com fogo, forjo meu amadurecimento com provocações. E para um provocador, convenhamos, os resultados nem sempre trazem bons frutos dentro de um diálogo. Infelizmente, na escrita, não há um tom de voz, algo que pode enganar o interlocutor e causar uma confusão danada.
Não vou colocar aqui a frase conhecida “sou responsável por aquilo que escrevo, não por aquilo que você entende”, já que, quem resolve escrever para outro, precisa sim deixar clara sua opinião. Nem sempre fui forte nisto também, já que há mais conjecturas que paradigmas permeando meus pensamentos. Tudo que escrevo, há algum tempo, sou eu tentando chegar à algum lugar do que trazer alguém ao lugar em que me encontro.
Paradigmas estão aí para serem quebrados, conjecturas estão aí para serem corroboradas, nada é certo, assim como não creio que encontre uma verdade absoluta. Por enquanto o agora me basta. Discordo, pobremente, de que não mudamos. Somos tocados por tudo ao nosso redor, músicas, textos, amizades, sentimentos, hormônios e sabe-se lá mais o quê. Com isso, fica mais difícil eu afirmar que manterei minhas certezas até o fim. Lutarei sim, para defendê-las, mas ciente de que não sou melhor que o outro e nem me encontro no centro de suas experiências. Se eu não estiver aberto às lições, não vou adquirir nenhum aprendizado, apenas serei mais um vaidoso e orgulhoso vagando pelo mundo.
É isto. Talvez eu retome minhas escritas, talvez não. Neste ponto, sou incapaz de tecer alguma sentença determinante.