E já se passaram dois anos…
Hoje é um dos dias mais importantes que carrego em minha mente, pois foi o dia em que escolhi vestir meu branco e adentrar ao chão sagrado pela primeira vez.
Seu Três Estrelas é um caboclo de Ogum que traz consigo, a força dos guerreiros indígenas, sisudo, sábio e um dos guias regentes de nossa casa. Este é o guia que escolhi para me auxiliar nessa caminhada dentro da Umbanda.
O Terreiro Caboclo Pena Branca foi onde escolhi para ser meu chão, ou melhor, acredito que eu fui escolhido por ele, apenas respondendo o chamado da espiritualidade para ali servir, juntamente com meus irmãos de corrente, nessa missão tão bela e profunda.
Dois anos já se passaram e ali aprendi muita coisa, presenciei pessoas chegando e pessoas se despedindo, fazendo com que o ciclo cumprisse o seu papel. Já foram inúmeras giras, algumas cansativas, outras nem tanto. Já foram alguns eventos, sempre com muita alegria e gratidão por tudo que tenho recebido até então. Sempre aquela loucura dias antes, no dia do evento e após, quando precisamos limpar tudo e deixar do jeito que estava.
Já chorei, já me irritei, já houve puxões de orelha onde, eu não estando em um bom dia, ao invés de escolher o diálogo, dei ouvidos ao meu ego e em minha revolta, optei pelo óbvio, querendo me desligar prontamente daquela corrente. E graças as pessoas que andam ao meu redor e que foram a minha sensatez naquele momento, ainda sigo neste chão. É muito mais fácil se vitimizar e se revoltar, olhar apenas para o seu umbigo e criticar o que quer que seja, porque olhar para si e perceber que é necessário crescimento e discernimento. Preferimos dizer que as mães de santo estão erradas e nós, ou melhor, nossas feridas, estão certas.
Caminhar ao lado de um punhado de pessoas e sua pluralidade não é tarefa fácil. Algumas te puxam da sua zona de conforto, outras confrontam sua forma de pensar e outras seguram sua mão nas horas mais difíceis. Se abandonarmos o nosso eu e olharmos o que de grande temos ao nosso redor, é melhor sim, escolher o diálogo, a compreensão do que só virar as costas e se despedir.
Nem sempre tudo é por causa de nossas dores. Evoluir é também abandoná-las. É estar ao lado de pessoas que não passarão a mão na sua cabeça quando for preciso. Todavia, também serão as mesmas pessoas que irão compartilhar o sorriso, o cansaço, o choro e suas experiências. Tudo isso te faz perceber que a espiritualidade caminha independente de nossa forma de ver o mundo. As coisas não sairão como queremos, mas o seu propósito será cumprido. Não podemos controlar a narrativa de algumas consequências, mas podemos escolher aquilo que plantamos, apenas.
Na época eu não sabia responder o motivo de escolher Seu Três Estrelas como o guia que me auxiliaria na compreensão e na minha caminhada. Um caboclo temido por muitos, por sua postura enérgica e direta, fala o que precisa e fala sem dó, quando necessário. Todavia percebo nesses dois anos, com todo o meu aprendizado e concluo que tudo acontece como precisa acontecer. Por isso hoje ele é meu Padrinho de Amaci.
Meu Padrinho, que, ao firmar minhas velas, possa sempre pedir a sua proteção, assim como pedir coragem para enfrentar os dias difíceis, coragem para encarar a minha vaidade, força para deixar meu ego para trás e ter um olhar apurado para que eu possa atender o chamado da espiritualidade com humildade e zelo. Peço sabedoria para que o meu temperamento não seja um empecilho no meu relacionamento com minhas mães de santo ou irmãos de corrente, buscando sempre a sensatez, o diálogo e a união. Peço prudência em minhas atitudes e muito mais em minhas palavras, pois sei que nossa língua pode ser enganosa e destruidora, mas também é capaz de resgatar a esperança e iluminar caminhos mundo afora. Que meu compromisso dentro da corrente, servindo com o toque no couro, possa ser um auxiliador à nossa corrente e não motivo de vaidade, buscando louvar o sagrado antes de tudo.
E obrigado meu Pai, por ter me guiado até aqui. Sem sua presença em meus dias, certamente eles seriam mais difíceis e as lições que hoje aprendo, talvez ainda não houvessem acontecido desde aquela consulta, onde o Senhor olhou para este homem desesperado e perguntou: “Por que você demorou tanto para vir?”.
E obrigado por ter me acolhido em sua proteção.
Saravá a força de Seu Três Estrelas!!!
Saravá o Terreiro Caboclo Pena!!!
Saravá a Umbanda!!!