Entre amigos — cena cinco

Celso Rodrigo
3 min readApr 12, 2019

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Com o desembarque dos três comparsas instalou-se também a preocupação no Morro da Berinjela. Nando e parceiros sabiam que logo chegaria o dia em que alguém disputaria o poder da favela com ele, mas não esperava que isto acontecesse em tão pouco tempo. Pediu ao vaporzinho avisar também Dona Lu, que certamente seria alvo de Rafaela, já que sua casa, apesar de modesta, rendia uma boa grana para ela e para o tráfico. A ameaça era presente e todos precisavam ficar preparados para um ataque iminente.

Rafa, Serjão e Rafaela não entraram diretamente no Morro da Berinjela, mas estavam aos arredores. Se instalaram no Morro do Sagu, atendendo o convite do João. João, um miliciano marrento que gostava de exibir seu poder no Morro do Sagu, também estava interessado em tomar o poder dentro do Morro da Berinjela e expandir sua rede de tráfico de armamento. Ele era responsável por grande parte do tráfico que alimentava o sul do país e possuía um grande exército, capaz de se igualar em número, ao comando do Nando. E Jane, juíza do crime e sua esposa, estava determinada a acabar com dona Lu por causa de uma disputa na época em que se prostituiu na boate de dona Zizi. Jane acreditava que Lu havia tomado o bordel que era para ser dela. E culpava Lu por toda desgraça que passou depois que foi escorraçada da boate.

Com o tempo, Jane se prostituiu em beiras de estrada em troca de alimento, até que seu caminho cruzasse com João. Se conheceram na praia, enquanto João curtia suas férias e Jane estava aproveitando a alta temporada para ganhar uma grana com turistas no litoral do Rio de Janeiro. Durante o tempo em que João ficou no Rio, acabou contratando Jane em tempo integral. Não demorou muito e ela acabou hipnotizada pela vida boa que seu contratante havia lhe apresentado. Com seus dotes, conquistou o ainda soldado da polícia e tempos depois, uniram-se para a vida do crime.

João tinha influência na polícia e no mundo do crime, todos os chamavam de Juiz e Jane, sua parceira e que, com a autoridade permitida por João, a Juíza. Ambos decretavam dentro do mundo do crime, quem permanecia vivo e quem partia dessa para melhor. Dentro do mundo do crime, eles possuíam seus próprios códigos de honra. Embora pareça estranho criminosos possuir algum senso de honra. Apenas mantinham a ordem e o respeito entre a bandidagem, comandando com coleira curta e destruindo todos que desobedecessem ao código.

Todavia, esse poderio não metia medo em Nando e com Arthur e Marcelo, dois porra locas da vida, estavam doidos para que um dia o confronto chegasse. Viviam mandando recados e perturbando João e Jane. E sempre recebiam respostas à altura. O juramento de João de que acabaria com a alegria e farra daquele trio, estava próxima.

Unidos com um objetivo em comum, o Morro da Berinjela, João, Jane, Rafael, Rafaela e Serjão estavam dispostos ao que fosse necessário, para criar o maior centro de distribuição de armas e drogas do sul do país e talvez, da América do Sul.

Em breve, uma luta será travada. Homens sedentos por poder e mulheres em busca de dinheiro para bancar seus gostos caros, trariam a desgraça aos arredores. Personagens cheios de medo e ódio mudariam o cotidiano dos trabalhadores. Os traumas de abusos, a perda da infância, a desilusão de uma juventude sadia e a busca pela vingança de um mundo que os desgraçou, lavaria com sangue e inundaria as ruas com corpos. A manhã não teria mais o gosto delicioso do sol brilhando na varanda e da noite cantando enquanto embala os sonhos dos inocentes. Poderiam até João, Jane, Rafael, Rafaela, Serjão, Arthur, Nando, Marcelo, Dona Lu, Fernanda, Dani e Débora, serem os personagens desta história, mas a morte havia se tornado a narradora. E o enredo ainda estava longe do fim.

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Written by Celso Rodrigo

Não me leve tão a sério, sério!

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