Entre amigos — cena três
Antes de prosseguir com o encontro entre os amigos do morro e seus novos moradores, vamos conhecer um pouco mais das personagens que fazem e farão parte dessa pequena história. Peço desculpas aos leitores pela interrupção abrupta, mas faz-se necessário para uma maior compreensão e conhecimento desses que são o centro de todo o texto.
Dona Lu chegou no morro ainda quando criança, fugindo da casa de seus pais. Quando pequena, sofria abusos de seu pai e seu tio, claro, sem quem um soubesse um do outro. Afinal, a pobre criança não poderia pedir socorro ao seu protetor, pois era ele também um agressor e destruidor de sua infância. Depois de quase três anos de total abuso por parte de seus familiares, criou coragem e contou à sua mãe, a qual acabou ficando ao lado do seu companheiro, acusando a pobre menina de ser a causadora dos ataques furtivos de seu genitor. Assim como sua tia preferiu defender o marido a ficar do lado da ferida criança.
Chegando ao morro, conheceu Dani Ruiva, que tocava o estabelecimento quase no topo do morro. Como era muito jovem, Dani apenas acolheu Lu, oferecendo-lhe moradia e alimento em troca dos serviços de limpeza do local. Não era fácil manter o bordel humilde, mas decente, que era sua casa onde as demais garotas trabalhavam. Com o passar do tempo Lu acabou atraindo olhares dos homens que ali frequentavam e ofereciam quantias generosas à dona e à moça, em troca de alguns minutos de prazer com aquela carne fresca que havia chegado na boate. Ainda que tenha resistido por alguns anos, trabalhando com limpeza e depois no bar e no caixa, tornou-se menina de confiança da dona.
Dani, com o passar da idade, resolveu treinar alguém para deixar no seu lugar. Logo apresentou uma proposta para aquela menina que havia acolhido. Não podemos chegar nesse ponto e simplesmente dizer que o momento em que a menina se tornaria mulher havia chego uma vez que as feridas que ela possuía se encarregavam de tal papel. Porém, para isto, era necessário à Lu, cumprir o mesmo ofício das outras e fazer a sua reputação entre os machos do recinto. Era hora de colocar Lu à prova e saber se ela tinha realmente dom para ser mulher da vida ou apenas uma serviçal.
No mesmo período em que Lu iniciou suas atividades como profissional, as meninas Dani, Nanda e Débora haviam desembarcado no mesmo bordel. Dani, mais acostumada com essa vida, já fora patricinha, mas por revolta com sua família, acabou se envolvendo com um traficante bem mais velho e que, morrendo, a largou sem dinheiro algum. Dani, viciada em drogas, vendeu seu corpo durante um tempo para conseguir manter seu vício. Passado cerca de um ano conseguiu largar os vícios, exceto o de ganhar a vida com sexo.
Nanda estava lá apenas pelos ganhos. Era dinheiro fácil, na teoria. Já que não podia se dar ao luxo de escolher clientes, os mais belos ou mais cheirosos. Enfim, sua vida era comandada pelo seu pequeno luxo. Gostava apenas de usar roupas de grife e não sabia outra coisa a não ser satisfazer os homens com sua sedução e seu talento entre quatro paredes. Não havia pudor nela. Geralmente se um homem chegasse e perguntasse se havia tal garota disponível a cumprir um ou outro fetiche, Nanda elevava um pouco o seu preço e demonstrava aos lascivos, o caminho do céu.
Débora, pelo contrário, gostava do sexo. Abusada quando menor, mas diferente da história da Lu, buscava uma espécie de redenção. Sentia-se culpada pelas agressões que recebeu e satisfazia os homens para infligir pena ao seu corpo e sua alma. Contudo, havia algo que chamava atenção nela, apesar de gostar do sexo e utilizar isso como uma ferramenta punitiva aos seus pecados, ela sonhava em sair dali, construir família, ter um marido e esquecer aquela vida de merda a que fora condenada. Nisto ela pensava, ora, se estou condenada, que eu cumpra minha pena até onde for possível.
Assim eram as garotas que logo dominariam os três rapazes, protagonistas de nosso breve conto.