Nosso ópio nos dai hoje…

Celso Rodrigo
3 min readJul 31, 2020

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“A religião é o ópio do povo” (em alemão “Die Religion … Sie ist das Opium des Volkes”) é uma famosa frase presente na Introdução à Crítica da Filosofia do Direito de Hegel (em alemão, Zur Kritik der Hegelschen Rechtsphilosophie — Einleitung), de Marx. Fonte: Wikipédia.

De tempos em tempos, observamos que nossa procura por algum tipo de ópio se faz constante. Como viciados desesperados, procuramos novos fornecedores e drogas que saciem nossa sede. Precisamos e muitos vivem apenas disto, consumindo ópios. Com isto, também se tornam parte da rede distribuidora, disseminando seu vício, convidando amigos para compartilhar de sua brisa.

Devo me atrever aqui e discordar um pouco de que a religião seja o verdadeiro ópio. O ópio mesmo encontra-se na religiosidade. No zelo pela religião, na forma como a exibimos ou “catequizamos” quem nos cerca. As religiões em si, contém ensinos onde buscam fazer que o ser humano transcenda a sua pequenez de alma. Todavia, esses ensinos, tomamos como verdade absoluta, um manual de conduta aí cometemos o erro da crítica às demais. O dogmatismo ganha forças e afasta as pessoas ao invés de nos fazer evoluir como pluralidade.

Outro ópio que ficou muito evidente é a política. Agora precisamos rotular os que são de direita e os que são de esquerda. Caso não se encaixe no mesmo lado que o meu, não serve para o meu círculo de amizades. Novamente o vício se faz presente e o consumimos de tal maneira, cega, exagerada, desenfreada, que até mesmo nossos familiares fazem parte da fatia excludente que separamos. Não estou aqui falando que devemos ficar consumindo a energia pesada de discursos, este é outro assunto.

Deixamos de buscar uma democracia sadia, onde vise o bem do povo. Pelo contrário, defendemos apenas poderosos que disputam o poder e pouco ligam para nossas necessidades. Nisto, a sociedade ainda padece com sede, ainda sofre com dificuldades, ainda perece à beira da mesa, enquanto os poderosos se afogam com o banquete. E pior, há quem se contente com as migalhas juntadas do chão e defendam aquele que jogou seu resto ao chão. “Olha, esse senhor sim é bondoso, me alimentou quando precisei e ainda mais, foi um pedação de carne mastigado, mas estava bom!”

E claro, não menos atual, a opinião também entrou nesse mercado de dependentes alucinados. É preciso opinar, caso contrário, não faço parte dos convidados da festa. Quero ser notado, quero ser popular, quero andar com os mais descolados. Somente assim, para muitos, a vida ganha sentido, quando o percebem como mais um descolado do bando. A lacração espalha-se como um vírus decorrente do consumo do ópio da opinião.

Quase todos se sentem conscientes de seu estado e opinam. Algumas vezes deixa de ser uma busca pelo conhecimento e novamente, é só mais uma “catequese” àqueles que nos ouvem. Opinar é necessário! Sem opinar, eu não existo! Se eu não opinar, sou um infeliz abandonado no meio do caminho. E ainda questionamos os motivos pelos quais as “fake news” são tão disseminadas em nossos veículos de comunicação. Se há mercado para vender um elemento que potencialize o efeito da droga, a opinião, porque não distribuir dentre ela, um pouco de notícia falsa, para que assim, a brisa se torne mais poderosa e demorada em seu efeito.

Óbvio, para toda regra há uma exceção. Existem tantas pautas necessárias para discutirmos, mas de maneira consciente. Consciente de quem somos, do que consumimos e como transformamos esse conhecimento adquirido e repassamos isto ao nosso próximo. Há assuntos urgentes que devem vir à tona para que nossos filhos herdem um convívio mais saudável em seus dias, porém, na teoria, é tudo bonito, quando chegamos na prática, aí a coisa desanda. Nunca foi tão necessário opinar como atualmente. Nunca foi tão fácil se tornar um digital influencer hoje.

Leandro Karnal, em seu livro “O Coração das Coisas”, na página 53, deixou uma citação necessária para nós. A citação foi uma definição de Walter Carnielli que diz: “Opinião não é argumento”.

Encerro aqui para não tornar o texto enorme, algo que me incomoda. E aquele negócio, dê seu like, se inscreva em meu canal, compartilhe também, mas lembre-se, é só uma opinião.

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Celso Rodrigo
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Written by Celso Rodrigo

Não me leve tão a sério, sério!

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