Sobre a melancolia…
Peço, por favor, se notar que estou melancólico, não tente me animar. Provavelmente será um esforço em vão, é como jogar palavras ao vento. Acredito muito mais em um abraço ou apenas a sua presença ao meu lado, do que tentar explicar o que se passa em minha cabeça no momento.
Peço, por favor, que não trate o meu estado melancólico e, claro, temporário, como um drama e nem transforme esse momento em uma tragédia. A vida em si já é trágica. Viver é trágico. Só tomo cuidado para que isto realmente não se torne uma forma absoluta de enxergar a vida.
Esses momentos são necessários, pelo menos para mim. Não vejo a melancolia como algo ruim. Diferente de muitos, resolvi aceitá-la, abraçá-la. Ela tornou-se mais uma das faces que possuo, e necessária para minha existência.
São nesses momentos que eu consigo ordenar meus pensamentos, repensar valores e resgatar algo que esteja perdido no meu existir. Lutar contra ela era desgastante, um esforço inútil, pois depois eu continuava melancólico e cansado. Desde então, resolvi convidá-la para sentar-se à mesa e dividir com ela o café que acabei de coar.
Saiba que consigo, na medida do possível, lidar bem com ela. Frases de autoajuda não possuem sentido diante deste instante em que me encontro. Dizer que tudo vai dar certo é alimentar uma esperança a qual deixei de possuir. Calma lá, não quer dizer que eu sou pessimista, mas prefiro pensar que pode dar certo ou não, não fico nutrindo uma certeza que pode tornar-se uma frustração futuramente, e com isso, piorar o meu estado.
Peço, por favor, que não confunda minha solitude com solidão. São instantes apenas, momentos necessários para que eu tenha um diálogo comigo mesmo, eu preciso destes momentos de meditação. Não tenho como sorrir neste estado, pois o diálogo é profundo e sincero. Nem sempre as respostas ou perguntas que surgem são agradáveis, mas precisam vir à tona.
Preocupe-se, sim, se eu não voltar a sorrir. Caso contrário, peço que respeite meu espaço. Se quiser, pode ficar ao meu lado, contemplando o horizonte e o silêncio. Algumas conversas não precisam de palavras para existirem. Amizades se fortalecem nos instantes de quietude, pois ali as almas é que dialogam. É o afeto maior que o verbo, ou talvez o afeto seja o verbo mais urgente nesta hora.
Talvez aqui você ainda proteste, não aceite que eu me entregue assim. Fico feliz com sua preocupação e amizade, realmente. Todavia lembre-se que somos pessoas distintas. Eu mesmo possuo diversas faces, algumas das quais nem reconheço ainda.
Não pense que vejo todos os dias cinzas, há dias que são coloridos e alegres e os guardo na memória e os trago à tona para que os dias cinzentos não sejam tão pesados assim. E para não me prolongar muito, encerro dizendo que sou grato pela sua amizade e que não me compreenda mal.
Um abraço, com afeto.