Sobre as palavras…

Celso Rodrigo
3 min readDec 5, 2018

--

Em entrevistas de emprego, muitas pessoas orgulham-se e citam que uma de suas principais qualidades é o ser sincero. Quase todo mundo já o disse em uma ou outra oportunidade, ou então, o menciona quando possível. Eu mesmo, já fiz isso diversas vezes e isto acabou me custando caro, não na entrevista, mas um tempo depois, quando já havia conquistado meu objetivo.

Com o tempo aprendi que a sinceridade sem ter ciência do peso e da responsabilidade do que se diz, te faz apenas ser mais um na terra dos imbecis. Digo tudo o que penso e por ser assim, me considero uma pessoa sincera. Errado! As palavras precisam de uma atenção maior e um cuidado que demanda um certo esforço também.

Aprendi com poetas e filósofos que elas podem ser pesadas, leves, trazer em si o peso de um peito sangrando e o afago do colo de mãe. Podem causar dores e feridas, talvez, incuráveis. Outrora, podem resgatar uma pessoa da sua escuridão. Podem desviar a atenção e esconder do outro a verdadeira intenção que um coração maldoso carrega em si ou pode revelar um conhecimento de si mesmo e do outro que o torna uma pessoa mais madura e sensível.

No imediatismo em que vivemos, tentamos resumir em poucas palavras, um mundo de experiências que cultivamos. Catequizar o outro, acreditando que carregamos o estandarte da verdade e que quem discordar do que pensamos, está contra nós. Esquecemos que podemos empregar um novo significado das palavras que nos ensinaram e apenas vomitamos ao outro o que outro dia ouvimos. E carregamos o fardo da teimosia, esperando que o outro seja obrigado a aceitar o mesmo peso que nós mesmos não identificamos como algo dispensável ou desnecessário.

Os poetas, como os admiro. Aprenderam a arte das palavras e seu jogo sedutor. Arte que nos resgatam lembranças, sentimentos, dores e até nos levam a perceber que, pela habilidade de quem escreve, não lemos o texto, mas o texto nos lê. Sentimos em cada verso suas dores, mas que são nossas. Nos identificamos com aquele ser por traz dos versos, que sofre, chora, sangra, que carrega em si um oceano de desespero igual ao nosso. Ah, palavras, como são importantes. Libertadoras!

Se perguntar à sua volta, perceberá que perdemos a capacidade de nos expressarmos oralmente ou, para não pesar no exagero, perdemos a paciência. Poucos são os que ainda se comunicam através de uma ligação ou conversa. Preferimos o texto, compactado em poucas palavras e o mais direto possível. Caso contrário, não desperdiçamos nosso tempo com aquele amontoado de verbos, interjeições, advérbios e etc.

Há quem também faça do silêncio, suas palavras. Seja no pouco que diz ou nada, ali nos intervalos entre uma e outra expressão também há algo subentendido. Todavia, destreinamos que somos, quase não percebemos. Quantos de nós acordamos, como costumo dizer, nublados de vez em quando. Onde não há uma frase ou conjunto de sentenças que consigam descrever o que pensamos e sentimos. Fazemos então a descrição disto através do nosso silencio.

Das palavras, fazemos nosso disfarce, nossa máscara, que esconde atrás de si, o que somos, pensamos, intencionamos. Seja para o bem ou para o mal. Este segundo, o pior. Utilizam da arte oral para destruir e alimentar o próprio ego, satisfazer seus desejos através da ferida alheia. Causam o mal para que assim consigam exibir um sorriso nos lábios e ter um breve momento de prazer.

Que sejamos maduros e responsáveis em nossos diálogos. Há discursos retóricos que podem trazer em si um ser raso, que tente disfarçar sua pobreza de espírito e sua preguiça de pensar. E há discursos minimalistas, mas que nos levem à uma profundeza de reflexões que nos demandem coragem e força. E que nossas palavras não venham a afirmar ou impor nosso ego fútil e arrogante, mas que permita ao outro a elevar-se, que não traga consigo respostas concretas, mas que possibilitem novas perguntas. Que nos resgatem de quem fomos um dia e nos levem a enxergar o outro como somos, humanos.

--

--

Celso Rodrigo
Celso Rodrigo

Written by Celso Rodrigo

Não me leve tão a sério, sério!

No responses yet