Sobre olhares…
O dia iniciou como a noite nublada, céu enegrecido pelas nuvens, melancólico como meu espírito. Um navio sem destino, perdido, sem saber para qual direção andar. A tempestade anunciada pelo balanço forte das águas me fez temer o meu destino. Onde ancorar com tamanho medo e insegurança? Que faço dos meus dias, aturdido por tamanha tormenta?
Logo, apareceu seu olhar, o brilho dele fez-se farol, apontando a direção ao navegante. O sorriso por detrás deles me remeteram à alegria e esperança, ciente de que o medo paralisa, se permitirmos. A esperança repousava novamente em meu peito. O ímpeto de continuar ao seu encontro era maior do que a insegurança de permanecer onde estava.
Alegria que transborda, luz que toma conta do lugar, um suporte necessário em dias nublados, alimento que evita que a tristeza tome conta. É esse o efeito que o seu olhar provoca. Espada que entra profundamente na alma e a liberta do sofrimento da ausência. Companhia tão presente, mesmo distante. Curativo para minhas feridas.
Quisera poder contemplar esse olhar do amanhecer ao findar do dia, onde o cotidiano nos massacra e fragmenta nossa vontade de prosseguir. Desde seu despertar no travesseiro ao lado até a despedida com um beijo silencioso em sua testa antes de adormecer. Cultivar com alegrias o brilho do teu olhar como ele cultiva em mim a vontade de acreditar que amar ainda é necessário.
Sou grato por permitir que eu admire, mesmo que longe, deste fulgor que transfigura meu caminho. Assim como o amante das artes fica ofegante, estático e maravilhado diante das obras de seu artista preferido, me encontro assim ao ser tocado por essa vivacidade de seu olhar. Peito inundado de fantasias, pensamentos que acalmam, mesmo com as mais altas ondas. Sua presença em meus dias é muito mais do que mera presença.
Onde quer que esteja, dona de tamanho esplendor, obrigado.
Com afeto.