Sobre transbordar…

Há quem diga que sem o outro é apenas metade. Eu sou inteiro mesmo sem o outro, o que dói é não ter outro para transbordar o que de mim, em mim não me cabe.

Enquanto isso, transbordo em letras para não pesar o peito, transbordo fitando as estrelas na esperança de decifrar seu rosto entre as constelações. Componho textos, versos que salvo no rascunho, frases que me auxiliam a entender ou apenas a desabafar esse excesso que há aqui dentro, escrevo histórias de nós dois em um dia preguiçoso, daqueles que só queremos ficar na cama e mais nada.

Me disseram que, antes de ter alguém ao meu lado, é preciso passar por esse período de solidão, experimentá-la para que, somente assim, eu esteja preparado para ter você ao meu lado. Dificilmente alguém que não vivencie a sua solidão e aprenda algo com isto, poderá transbordar o seu melhor no outro.

Por isso sigo te observando de longe, fazendo dessas linhas, o meu confessionário. Creio que ainda falta compreender algo que não percebi, para me livrar das cascas dessa ferida que estanca minhas dores, mas que ainda estão ali. Somente o tempo pode trazer a cicatriz e enfrentar esses ressentimentos me transformarão em alguém melhor. Melhor para mim mesmo, melhor para quem anda ao meu lado, para quem está chegando ou partindo.

Se há alguma dor, ainda que da ausência, é indispensável superar a solidão. Transbordar de si para o outro não pode ser por dor, mas porque deseja que o outro experimente da sua essência. A entrega está aí, quando transbordando, permitimos que o outro adentre nosso ser e tenha seu espaço. O líquido não toma lugar, mas adapta-se ao redor, apenas.

Encerro por aqui esse pequeno desabafo, pois vejo que há tanto do que se falar em transbordar, que daqui a pouco poderá ser estender mais do que o pretendido e não quero te cansar, apenas provocar seus pensamentos, esperando que transborde também.

Onde quer que esteja.

Um beijo, com afeto….