Sobre uma certa Dona Negrinha…

Celso Rodrigo
3 min readJun 9, 2024

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Chão que caboclo pisa é preciso respeito, pois carrega histórias! E que história foi essa? Escrita nas linhas da vida! Para muitos pode ser desconhecida por muitos, porém, para uns poucos, traz tanto sentido e sentimentos que, certamente, seria presunção minha conseguir resumir tudo isso nessas poucas linhas!

Negrinha, como chamava o Seu Odinir, o que eu posso tentar resumir nesse pequeno texto, incapaz de comportar tamanha grandeza? Tanto de coração, de sentimento, de luta, de conquistas, de lágrimas e todo um enredo que apenas as memórias dos seus conseguiriam resumir. Eu mesmo? Uma tarefa impossível. Posso apenas descrever a minha percepção e ela fica aquém se eu tentasse comparar com aqueles que viveram ao seu lado.

Quando digo que chão que caboclo pisa carrega histórias porque há uma, das tantas, particular e enorme por detrás dessa personagem. Dona Neuza, chamada pelo seu esposo por “Negrinha”, mas também conhecida como Dona Pequena, pelos seus filhos. Apelido carinhoso, que não consegue exprimir o coração dessa mulher, esposa e mãe.

Talvez você diga que milagres não existam ou que você ainda não viu nenhum. Essa negrinha testemunhou milagre em sua vida. De seus seis filhos, um seria improvável. Cinco mulheres e um homem. Ele carrega consigo o símbolo de fé, de resposta à oração de uma mãe por seu filho e hoje vive, é casado e tem seus valores com raízes do que ela ensinou. Respostas aos médicos que desacreditavam em seu diagnóstico.

Foi uma mulher com uma alegria que era visível em seu sorriso, nas reuniões familiares em qualquer tipo de festa ou oportunidade. Claro, ao mesmo tempo que era feliz, companheira, que carregava em suas rugas as marcas do tempo, de uma vida que não a poupou de lutas, mas que pode contemplar um jardim repleto de beleza e alegria, pelos seus filhos e netos.

Fofoqueira! Isso é preciso ressaltar. Adorava uma fofoca, um leva e traz e até mesmo, algumas confusões. Impossível contar ou relembrar uma história onde essa Dona Pequena não tivesse o seu dedo, manipulando o enredo, porém, de longe a maldade agia, era apenas a simplicidade e até mesmo, suas preocupações atuando para que todos estivessem bem. Obviamente, o barraco estava montado! E esse mesmo barraco deixava de existir entre um churrasco e outro.

Teimosa como ninguém, jogadora nata de canastra, era capaz de te dar uma surra entre as canastras limpas e sujas. O seu carteado era a vida. Parceira daquela cervejinha do fim de semana, de recepção em seu lar onde o olhar brilhava ao ver suas filhas e filhos, suas netas e netos, um coração absurdo de gigantesco.

Certo dia expressou seu desejo de vestir seu branco novamente, depois de anos afastada. E assim foi!

Chão de caboclo carrega histórias e também é capaz de fazer com que as pessoas realizem desejos simples, de apenas vestir seu branco e caminhar ao nosso lado. E assim foi. Não é apenas uma camiseta, pois sua alma, seu coração e seu espírito, já pisava junto conosco em nossa corrente. Peço licença aqui às minhas Mães de Santo, mas uma das irmãs mais honoráveis que já tivemos.

Dona Negrinha, senhora de sorriso largo, de doçura e humildade ímpar, de alegria incomparável e uma simplicidade invejável. Difícil resumir uma história e também difícil resumir a falta que você faz.

Onde estiver, Dona Negrinha, olhe por nós!

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Celso Rodrigo
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Written by Celso Rodrigo

Não me leve tão a sério, sério!

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