Um sábado no terreiro…
Sábado passado fui convidado pela minha filha para ir conhecer o terreiro de umbanda em que ela começou a frequentar. Obviamente minha primeira reação foi de resistir, pois sou muito medroso para essas coisas de espíritos, porém, aceitei de bom grado, já que ela queria muito que eu fosse vê-la.
Chegamos no endereço e fomos muito bem recebidos, apresentados e recendo cumprimentos. Em respeito ao momento, deixei o celular no silencioso, para que nada atrapalhasse ou desviasse minha atenção. Depois de muitos anos, e eu digo anos mesmo, estava eu em um centro de umbanda.
Parece soar estranho e é, pois nasci num lar católico, que depois foi para a umbanda, depois evangélico e deu-se essa mistura do que sou hoje. Catequista, coroinha, crisma e depois músico em uma igreja evangélica, o crescer na fé foi até tranquilo. O debate das crenças era o que me incomodava e fazia crescer em mim muitos questionamentos que ainda não encontrei resposta, mesmo nas centenas de livros que li.
Aprendi com o tempo que há uma dicotomia entre fé e crença, que muitos não enxergam. O dogmatismo e a religiosidade é que estragam o fã clube divino. Há uma crítica absolutamente forte, mascarada de aceitação do outro e suas escolhas. Ter suas crenças, mas não aceitar que as outras também podem ser exercidas, acreditando que somente você é detentor da verdade, só te faz ser uma pessoa chata e que ainda não entendeu o andar com fé.
Da experiência que vivi, só posso afirmar que foi maravilhosa em vários aspectos, comovente em outros, pois pude compreender tantas coisas e observar outras que me enchem de alegria. Saber que não há mais aqui dentro de mim a vontade de mudar o outro, de convencer de que ele está errado e que, aceitar e respeitar vai muito mais além do que dizer apenas “você quem sabe”, sem uma crítica velada por detrás disto, já aliviou um peso enorme dentro do meu peito.
E ver minha irmã e minha filha lá, todas de branco, exercendo sua fé e crença, me fez segurar as lágrimas em determinados momentos. Perceber que elas estão caminhando e construindo seu caminho sem eu me intrometer, com condenações ou palavras de agressão às suas escolhas, abriu meus olhos para o quanto amadureci quanto a isso.
E há uma poesia comovente ao encontrar-se diante do divino e sua manifestação. Sempre foi e sempre será um dos meus assuntos favoritos. Olhar as pessoas ali, em seu encontro semanal, com suas manifestações não me chocou ou me ofendeu, só me fez acender a alegria de reunir-se com outros que pensam diferente, que escolheram diferente e respeitam os demais.
Não sou cético, longe disto. Sou questionador. É diferente.
E desconheço muito da história das entidades para simplesmente me achar melhor quando estudei apenas uma parte da história, a cristã.
Diante da beleza de minha filha e de minha irmã naquele sábado, me curvo em gratidão pelo convite feito e por ter presenciado aquele momento.
A elas e ao pessoal da C.U.R.O, o meu sincero obrigado. Que Deus e seus orixás continuem guiando seus passos.
Com afeto…