Um #tbt qualquer…
Há quase exatos dois anos, fiz uma das escolhas que mudariam meus dias dali em diante. Por muitos anos, havia desistido de professar alguma crença e seguir apenas o caminho de desenvolver o intelecto, buscando o crescimento e melhora como pessoa através da Filosofia. Não queria mais nenhum tipo de contato com instituições religiosas e crenças que envolvessem muitos indivíduos ou que exigisse algum tipo de compromisso, além da minha leitura e talvez, disposição para empregar energias que me tirassem da zona de conforto.
E nesses quase dois anos, cada dia traz em si um aprendizado. Estou longe de ser uma pessoa excelente, mas posso afirmar que as mudanças que vieram de lá pra cá são evidentes no meu pensamento, no meu comportamento e na minha visão de vida.
Ainda carrego muitos hábitos que necessitam serem extinguidos. Desde meu orgulho, minha teimosia, minha impaciência, meu temperamento, até mesmo o freio em minha língua, dentre outras falhas que fazem com que eu ainda cause dores em outras pessoas. Todavia, percebo que ter a consciência que transformação é precisa, já é fruto dessa consciência que carrego hoje.
Exercer sua fé é diferente de exercer sua crença, foi o que aprendi com esses anos. A crença é o conjunto de dogmas e pensamentos que unem os indivíduos em comunidade, onde a discussão de ideias faz do diálogo, o norte para qual direção precisam seguir. Já a fé é algo mais individual, é solitário, te isola da comunidade e somente você pode pesar suas escolhas.
Dentro de um terreiro de Umbanda, existem seus fundamentos, que são as regras essenciais que ditam o que pode e o que não pode. Não que isto venha a abranger os dias futuros. Por isso o diálogo. A discussão de fatos que os fundamentos ainda não previram. Nisto cabe a crença, para entendermos que o novo que surge, fere ou não os fundamentos, se pode ser acolhido ou expurgado, se pode ser aceito ou proibido.
A fé não, ela te isola ao mesmo tempo que ela pressupõe a dúvida. É você ouvir um caboclo, muito antigo, te convidar a caminhar ao lado dele, confiar em sua palavra e suas decisões, mesmo sem saber onde vai dar tudo aquilo. É construir um caminho diário, sem ter a mínima noção do amanhã, mas entendendo que ele sabe o que faz.
E quão boa foi essa escolha, depois do convite que recebi da minha filha, de conhecer um terreiro de Umbanda e hoje, olhar para os meus irmãos de corrente, pertencer à essa família.
Somos uma corrente que não é melhor ou pior do que as que já existem, apenas damos as mãos e na linguagem popular, se as mães de santo falam “bora”, “nóis bora!”.
Sim, uma corrente comandada apenas por mães de santo!
Competentíssimas, devo registrar aqui. Não, isso não as converte em seres superiores a todos os demais mortais, mas isso também é fé. Entregar a sua vida voluntariamente ao compromisso, debaixo da ordenança delas. Entretanto, elas trazem um conhecimento que nós, muitas vezes, não conhecemos ou que passou despercebido aos nossos olhares.
Sempre peço, em oração aos Orixás, para que elas tenham sabedoria para nos guiar nessa construção diária e do molde de nossa identidade como médium de Umbanda. E que nossa corrente sempre esteja unida, buscando trabalhar conforme nossos guias regentes pedem.
Que assim seja!